Linha de cuidado - Hipertensão Arterial Sistêmica
Índice
LINHA DE CUIDADO
HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA
CONCEITO
A Hipertensão Arterial é definida quando há persistência de pressão arterial sistólica acima de 135mmHg e diastólica acima de 85mmHg, sendo hoje considerada um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares e cerebrovasculares. Atualmente, é considerada um dos mais importantes fatores de risco para doença cardiovascular, por apresentar alta prevalência e por ter forte relação de risco com eventos cardiovasculares fatais e não fatais, sendo essa relação contínua, positiva e independente de outros fatores. Por tratar-se de uma patologia oligossintomática e, às vezes, assintomática, acaba sendo de difícil diagnóstico ou ocorrendo de forma tardia, quando já existem outros comprometimentos. A hipertensão arterial é responsável por cerca de 40% das mortes por acidente vascular cerebral e 25% das mortes por doença coronariana, sendo essa porcentagem proporcional aos valores pressóricos.
CLASSIFICAÇÃO
Os limites de pressão arterial considerados normais são arbitrários, e deve-se sempre levar em consideração os fatores de risco cardiovascular associados e a presença de lesões de órgão-alvo (vide anexo nº 23). Os níveis de pressão arterial que permitem classificar os indivíduos, de acordo com a sua faixa etária constam nas tabelas a seguir. Importa destacar que, na faixa etária abaixo de 18 anos, além dos níveis pressóricos, são considerados outros fatores, como idade e sexo (consulte a tabela de valores de pressão arterial referentes aos percentis 90, 95 e 99, para indivíduos na faixa etária de 1 a 17 anos, de acordo com sexo e estatura no Manual Técnico de HAS)
FATORES DE RISCO CAUSAIS E CONDIÇÕES AGRAVANTES DA PRESSÃO ARTERIAL
É importante assinalar que a Hipertensão Arterial (HA) é uma condição resultante de uma série de fatores que devem ser observados na prevenção da doença. Muitos desses fatores, assim como a associação da HA com outras patologias, podem agravar o quadro quando a doença já está instalada. O resultado disso é um aumento do risco cardiovascular, fechando um ciclo que pode ser consideravelmente minimizado com medidas de prevenção eficientes, sendo a principal delas, a mudança dos hábitos de vida.
SISTEMA HIPERDIA
O Sistema HiperDia tem por finalidades permitir o monitoramento dos pacientes captados no Plano Nacional de Reorganização da Atenção à Hipertensão e ao Diabetes Mellitus e gerar informação
para aquisição, dispensação e distribuição de medicamentos de forma regular e sistemática a todos os pacientes cadastrados. O Sistema está integrado ao Cartão Nacional do SUS, garantindo
a identificação única do usuário do Sistema Único de Saúde, através do número do CNS – Cartão Nacional de Saúde.
O HiperDia pode ser implantado em diferentes locais – Unidades Básicas de Saúde, Distritos Sanitários e Secretarias Municipais de Saúde - e com diferentes ambientes de configuração, integrando
os níveis de organização da rede de saúde municipal. O Subsistema municipal transfere e recebe dados do Subsistema federal do Sistema HiperDia, gerando a base nacional do Cadastro de
Portadores de Hipertensão e Diabetes Mellitus.
- Texto extraído do Manual do HiperDia – Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de pacientes hipertensos e diabéticos, do Ministério da Saúde, Secretaria Executiva - Departamento de
Informática do SUS.
AÇÕES EDUCATIVAS COM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR
A Educação em Saúde tem por objetivo transmitir, aos usuários do sistema de saúde, conteúdos que esclareçam suas dúvidas e forneçam subsídios para o autocuidado, num processo que pode ir da simples transmissão de conceitos até novas formas de organizar o conhecimento. Esse processo exige uma nova postura da equipe multiprofissional, de forma a possibilitar que a interdisciplinaridade rompe com a fragmentação e justaposição de conteúdos. Outro aspecto importante das ações integradas da equipe refere-se à postura dos profissionais da saúde com os usuários, familiares e destes entre si. Entende-se que “humanizar” as relações entre usuários e trabalhadores e, por consequência, o processo de produção de serviços de saúde, significa qualificar o cuidado, respondendo às necessidades de saúde dos usuários, reconhecendo-os como sujeitos e comprometendo-se assim com a satisfação de suas necessidades, através das relações de acolhimento, vínculo e responsabilização, a partir do princípio da Saúde como um direito. Dessa forma, o envolvimento dos pacientes portadores de Hipertensão na implementação do seu plano de cuidado é fundamental, e cabe à equipe motivá-los a desenvolver suas capacidades e explorar seus potenciais em função de sua idade, estilo de vida, condições e exigências cotidianas, a fim de melhorar sua qualidade de vida. As ações educativas em saúde podem também ser desenvolvidas com grupos de usuários, pacientes, seus familiares e a comunidade, sendo adicionais às atividades individuais. A equipe deve usar todos os recursos disponíveis para orientação, educação e motivação, a fim de modificar hábitos de vida, detectar precocemente sintomas de risco e diminuir os fatores de risco cardiovasculares, incentivando o uso ininterrupto dos medicamentos, quando necessários.
Físicos |
Aquisição de hábitos saudáveis através de exercícios físicos orientados conforme a idade, peso e condições clínicas. O tipo de exercício deve ser adequado às possibilidades e limitações do paciente. Deve-se orientar sobre o efeito da atividade física no controle da pressão, dos lípides e do peso. A prática de atividade física regular está indicada para todos os indivíduos, inclusive para os usuários de medicamentos anti-hipertensivos. Antes de iniciar programas regulares de atividade física, esses pacientes devem ser submetidos à avaliação clínica especializada, para eventual ajuste dos medicamentos e recomendações médicas associadas ao exercício. Todo adulto deve praticar 30 minutos, ou mais, de atividades físicas moderadas, de forma contínua ou acumuladas, em pelo menos cinco dias da semana. A frequência e graduação dos exercícios são fundamentais para um bom condicionamento físico, o que traz grandes benefícios cardiovasculares para o indivíduo. Recomendação individual: fazer exercícios aeróbicos (caminhada, corrida, ciclismo, dança, natação); exercitar-se de 3 a 5 vezes por semana; exercitar-se por pelo menos 30 minutos (para emagrecimento são necessários 60 minutos); o exercício deve ser de intensidade moderada, definida como: respiração não ofegante (conseguir falar frases compridas sem interrupção) e sentir-se moderadamente cansado no exercício; realizar também exercícios de resistência ou isométricos (musculação). No caso de hipertensão já instalada, as atividades físicas devem ser feitas com sobrecarga de até 50% a 60% de uma repetição máxima (repetição máxima = carga máxima que se consegue levantar uma única vez) e o exercício deve ser interrompido quando a velocidade de movimento diminuir. Promoção da motivação para os cuidados pessoais com manutenção das medicações, controles periódicos do peso e da pressão arterial, observação diária de sintomas de descompensações, como dor de cabeça, tonturas, formigamento de extremidades, sangramento nasal, dor ou aperto no peito, queimação, pontada ou sensação de angústia, irradiada para MSE, costas, estômago ou mandíbula, sudorese, dispnéia, náuseas, paresia, parestesia, hemianopsia e ou diplopia, disartria e ou afasia, confusão mental, náusea e ou vômito associado a um dos sintomas anteriores ou desencadeado após esforço ou stress emocional. Oferecer orientações sobre higiene bucal e fatores de risco para transmissibilidade de doenças, cáries e doenças periodontais, assim como sobre o risco de hábitos considerados não saudáveis, como fumo e uso de drogas ilícitas ou álcool. Aconselhamento pré-concepcional, pré-parto e pós-parto em casos de hipertensão já instalada antes da gravidez ou de hipertensão gestacional. |
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Nutricionais |
Orientação sobre os grupos alimentares, respeitando hábitos e condições econômicas; efeito dos macro nutrientes na glicemia e no peso; importância dos macro e micronutrientes na alimentação equilibrada; noções de nutrição saudável com redução de alimentos com conservantes, defumados, com gorduras trans, frituras, embutidos e esclarecimento sobre os efeitos do sódio na hipertensão, valorizando dietas hipossódicas e a inserção de outros temperos; variação do cardápio com lista substitutiva para evitar monotonia alimentar |
Psicológicos |
Orientação sobre comportamentos saudáveis no núcleo familiar, evitando distinção e isolamento com discriminações relacionais e de hábitos ou negligenciando fatores de risco, de forma a favorecer a participação do hipertenso em todas as suas atividades, em casa ou ambientes sociais. Orientar o distanciamento de situações estressantes sempre que possível, ou equilibrar com outras situações mais gratificantes. |
Atividades da vida diária e prática, lúdica e do trabalho |
Educação para o ato de observar as atividades realizadas no cotidiano (autocuidado, de lazer e/ou lúdicas e do trabalho) e as posturas e esforços que são realizados durante a sua execução. Valorização da atitude através do conhecimento e identificação de tais situações no cotidiano, evitando situações de estresse ou sedentarismo. Para os adultos, no ambiente de trabalho, a orientação permanece e, se for necessária a mudança de função por detecção de riscos, programá-la junto ao empregador. A detecção de sintomas durante a execução de atividades e a busca rápida de ajuda é fundamental para a prevenção de agravos. Outro fator importante é favorecer sempre momentos de lazer e convivência na família e na comunidade. |
Locais de desenvolvimento das ações educativas |
As ações educativas podem ser desenvolvidas em vários ambientes, como: domiciliar, escolar, outros equipamentos sociais, unidades básicas de saúde, unidades de média e alta complexidade. |
Equipe responsável |
Agentes comunitários de saúde, auxiliares de enfermagem, enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais. O conteúdo educativo pode ser desenvolvido e preparado com a colaboração de profissionais de referência no caso da unidade não contar com uma equipe multiprofissional completa; porém, em nenhuma situação, as ações educativas devem ser interrompidas, uma vez que é parte fundamental do tratamento do paciente hipertenso. |
Encaminhamento para tratamento ou reabilitação |
Em casos avançados da doença, com lesões de órgãos-alvo, ocorrendo limitações orgânicas, funcionais, psicológicas e/ou sociais, encaminhar à unidade ambulatorial especializada para tratamento ou reabilitação (vide ações terapêuticas com enfoque interdisciplinar). |
Orientação sobre entidades da sociedade civil que possam fornecer informações ou outros recursos necessários |
A busca de informações em Ligas e/ou Associações de Portadores de Hipertensão Arterial é uma estratégia que pode motivar o paciente a buscar seus direitos. |
Orientações sob o ponto de vista jurídico-legal |
O portador de hipertensão grave tem isenção de impostos e aposentadoria precoce, mediante laudo com comprovação médica. |
AÇÕES TERAPÊUTICAS E DE REABILITAÇÃO COM ENFOQUE INTERDISCIPLINAR
As ações terapêuticas e/ou de reabilitação têm por objetivo instrumentalizar o paciente acerca dos recursos existentes para o seu autocuidado, tratamento e/ou reabilitação, assim como dar assistência específica para casos que exijam tratamento com outros profissionais da saúde (psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas) de acordo com o projeto terapêutico individualizado, motivando-o a desenvolver suas capacidades e explorar seus potenciais dentro das suas limitações. A qualidade de vida, independência nas relações familiares, sociais e do trabalho devem ser o enfoque da equipe multiprofissional e interdisciplinar.
Nas atividades desenvolvidas em grupo, o paciente se identifica com outros indivíduos com problemas semelhantes, aprendendo a expressar seus medos e expectativas e explorar seus potenciais. Com isso, passa a compartilhar das experiências de todos, buscando soluções reais para problemas de saúde semelhantes aos seus. Prevenir, tratar e reabilitar pacientes com hipertensão arterial envolve ensinamentos para o conhecimento das suas inter-relações, de suas complicações, das mudanças nos hábitos de vida, necessários para o adequado controle, e para lidar da melhor forma com sequelas decorrentes dos agravos.